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quinta-feira, 7 de junho de 2007
Vomitando o tempo perdido
Depois de tanta devastação com o vendaval de ontem, encontrei reconforto nesse pequeno broto, cuja semente plantei há poucos dias (acho que é um girassol, não me recordo bem, pois plantei muitas sementes ao mesmo tempo em vários lugares). A sensação que sinto cada vez que vejo as sementes que plantei germinando é inexplicável. Os vizinhos devem pensar que sou completamente louca. Sempre que volto para casa ainda com a luz do dia, ou nos dias em que não trabalho, o ritual é o mesmo: caminho por todo o jardim, observando o crescimento das plantas. Paro, olho, observo, sorrio (ou não, se a coisa não vai indo muito bem), fotografo, quando tenho a câmera comigo (seguidamente). Jardim da frente, do lado esquerdo (um canteiro de flores e uma pequena horta), do fundo, do lado direito, vasos na varanda... Tudo sem pressa, como que em câmera lenta. Às vezes repito o ritual mais de uma vez por dia. Não me canso. Acho que poderia colocar uma cadeira por lá, dias a fio, e simplesmente ficar observando tudo crescer.
E então me vem à mente...
Ah, eu ainda comerei estrelas!
Flores campestres, e bosques de eucaliptos...
Eu beberei riachos cristalinos
insinuando-se por entre as pedras.
Ah, eu ainda mastigarei segundo por segundo
e em êxtase vomitarei todo o tempo perdido!
Escrevi isso há quarenta anos. Ouviram bem, mas repito para esclarecer qualquer dúvida: qua-ren-ta anos! Tinha, então, 17 e sofria de uma ânsia incrível de VIVER. O sentido era ambíguo, ou melhor, duplo. Havia a metáfora, onde estrelas, flores campestres, bosques e riachos significavam experiências realmente enriquecedoras, a VIDA, enfim, pela qual eu ansiava. Mas essa VIDA não poderia acontecer dissociada da Natureza. Era uma necessidade visceral, a qual tive que suportar por anos e anos a fio, morando num apartamento no oitavo andar que nem sequer tinha sacada, por pequena que fosse.
Mas não sei se acreditava, na verdade, que um dia viria realmente a degustação e o vômito. Parecia-me impossível. Quando dizia que um dia o faria, na verdade lançava uma espécie de grito de agonia por toda a frustração engolida.
Pois, hoje, deveria escrever...
Ah, eu finalmente estou comendo estrelas!
Flores campestres, e bosques de pinheiros...
Estou bebendo riachos cristalinos,
que se insinuam por entre as pedras.
Ah, eu estou mastigando cada segundo
e, em êxtade, vomito todo o tempo perdido!
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2 comentários:
Querida irmã, muito lindas tuas poesias e tua colagem. Vejo-as ao mesmo tempo que ouço canções de Tom Jobim, o que dá mais clima. Que bom que passou o vendaval. E que bom que temos a sensação de "ter chegado", mesmo que tenhamos perdido alguns pedaços pelo caminho.
Oi!
Obrigada!
Que bom te encontrar por aqui! Espero que com o tempo todos se acostumem a dar uma olhadinha e postar alguns comentários, pois esta é a finalidade maior do blog.
Ainda estou limpando o jardim e tentando "consertar" (com estacas e podando) algumas plantas que sofreram mais.
Sim, é uma sensação muito boa. Perder os pedaços dói, mas faz parte do trajeto. O importante é a gente não se deixar abater e tentar se fixar mais nas coisas boas.
Até amanhã, na nossa conferência!
Beijos!
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